Nos dias 16 e 17 de setembro ocorreu o II Seminário de Vigilância em Saúde das Populações Expostas à Agrotóxicos (VSPEA), em Porto Alegre (RS). O encontro reuniu profissionais da saúde, estudantes, gestores, militantes e representantes da sociedade civil. Foi um espaço de debate e construção coletiva, com foco na formulação de políticas públicas que visam a saúde e a segurança das populações expostas a agrotóxicos.
Promovido pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, por meio do Comitê Estadual do VSPEA, o Seminário contou com dois dias de atividades, e teve como objetivo aprofundar conhecimentos e fortalecer ações de vigilância frente aos impactos dos agrotóxicos na saúde humana. Eduardo Raguse, representando a Amigas da Terra Brasil, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e também a Cúpula dos Povos rumo à COP30, esteve presente em um dos painéis de debate, e fez fala abordando a emergência climática e o papel do agronegócio no contexto brasileiro.
Eduardo iniciou a sua exposição apresentando o atual contexto da emergência climática. “São efeitos principalmente da revolução industrial e da queima dos combustíveis fósseis. Mas, no Brasil, o principal fator de emissão está ligado ao modelo do agronegócio, principalmente em relação ao desmatamento e às queimadas para expansão da fronteira agrícola, além das emissões do próprio setor agropecuário. Esta soma evidencia que o agronegócio é responsável 75% das emissões brasileiras”, expôs.
Também está na conta deste setor a responsabilidade de o Brasil ser um dos países recordistas no uso de agrotóxicos no mundo. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em 2022, o Brasil consumiu mais de 800 mil toneladas de agrotóxicos, o equivalente a quase um terço de todo o consumo mundial. “Chegamos a 800 mil toneladas de agrotóxicos em 2022 e hoje seguimos em torno dessa faixa. Além disso, o agronegócio é responsável por uma série de conflitos no campo. De acordo com o último relatório da CPT de conflitos no campo, em 2024 se registrou o segundo maior índice de conflitos no campo desde 1985. Foram 2.185 casos, ficou atrás apenas do ano de 2023, quando ocorreram 2.250 casos de conflitos no campo”, evidenciou Eduardo.
A utilização dos agrotóxicos como arma química também foi um dos pontos que Eduardo colocou em evidência. “Em 2024 foram 276 casos registrados de contaminação por agrotóxicos, atingindo mais de 17 mil famílias, sendo que sabemos que esse número é bastante subestimado e que quase 90% dos casos foi devido à pulverização aérea. E está crescendo no Brasil, de maneira muito assustadora, o uso de drones para pulverização aérea. Temos cerca de 2.500 aeronaves para pulverização aérea registradas na ANAC e já temos mais de 8.500 drones para esse mesmo uso sendo que se estima que sejam mais de 12 mil em operação, ou seja, sequer estão registrados boa parte desses drones“, afirmou.
A luta contra o agronegócio também é uma luta climática

Eduardo ressaltou a importância da construção de ferramentas de vigilância popular como estratégias coletivas contra os impactos da emergência climática, assim como para a defesa dos territórios de vida frente às políticas de morte do agronegócio. “Eu trouxe esses elementos todos para dizer que a luta contra os agrotóxicos, contra o agronegócio, também é uma luta climática. A gente frear e mudar esse modelo do agronegócio brasileiro vai trazer efeitos, também, como contribuição do Brasil para a redução das emissões de gases de efeito estufa, para além de todos outros fatores socioambientais envolvidos”, destacou.
Aterrissando o debate num dos grandes eventos para negociações do clima a nível global, a COP 30, que será sediada em Belém (PA) em novembro deste ano, Eduardo encerrou a sua fala apresentando as principais pautas da Cúpula dos Povos rumo à COP30. A Cúpula dos Povos é um evento paralelo ao oficial, que emerge das raízes das lutas como contraponto e processo político de incidência nas Conferências do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), assim como em outros espaços. Nela, movimentos e organizações sociais, inclusive a Amigas da Terra Brasil, se fortalecem e agem para pressionar as negociações, construindo e apresentando soluções alternativas às das grandes corporações e dos governos que as defendem.
“Defendemos, principalmente, o direito à terra e ao território de populações tradicionais, por meio de demarcação de terras indígenas, titulação de quilombos e também com a reforma agrária e urbana e o desmatamento zero. E pautamos, principalmente, uma mudança radical e profunda nesse modelo de agronegócio brasileiro. Além, é claro, da nossa pauta de fundo, que é lutar por uma mudança do modelo global de produção e consumo”, especificou Eduardo.